terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A alegria de me sentir vivo


Uma leve brisa gélida embalava as folhas das árvores naquela tarde chuvosa de domingo na França enquanto eu ficava deitado no tapete que havia na sala de estar da casa onde eu passei grande parte de minha vida, o tapete era bem aconchegante, lembro que nas tardes que havia sol, eu chegava da escola e ficava deitado no mesmo esperando o almoço, olhando a poeira dançando dentre os raios de sol que entravam pela janela, mas naquele tempo ainda eu podia ficar um longo período olhando aquele ‘teatro’ da natureza, hoje a vida corre, mal tenho tempo para cuidar de mim mesmo, quem dirá dos fenômenos que acontecem, mas estava de férias, aliás, eram os últimos dias de férias, os últimos dias em que poderia ficar naquela casa, porém fazia certo tempo que o sol não aparecia, era inverno, dias nublados, fazendo com que não conseguisse olhar e lembrar da tal dança da poeira que eu gostava tanto enquanto criança.
Eram 16h30min da tarde, a chuva tinha dado uma trégua, porém o vento gélido havia continuado, então resolvi sair um pouco, caminhar, ver se encontrava alguém na rua, me dirigi à um parque a qual meu avô me levava para andar de balanço, entretanto não havia ninguém lá, somente as folhas e o vento, já quase desistindo de encontrar algum ser humano naquela tarde, percebo que no horizonte havia uma menina caminhando na minha direção, ela estava distante, seus cabelos tinham uma tonalidade indescritível, eles ficavam se movendo de acordo com o vento, e com o andar da tão bela moça, de sorriso angelical, quanto mais ela se aproximava mais eu conseguia observar o quão linda ela era, pele de boneca, seu sorriso era como o de mona lisa, um pouco misterioso, um pouco tímido, um pouco provocante, realmente chamaria a atenção de qualquer homem que o visse, porem só estava eu e ela no parque naquela tarde, meu coração começou a bater forte, pois sempre tive vergonha de dialogar com mulheres que eu não conhecia, a minha respiração aumentou, a boca secou, e então aquela bela moça iria passar em minha frente quando resolvi soltar um tímido e gago:
- O-o-o-olá
- Oi, boa tarde, desculpe, nos conhecemos?
- Acredito que não, havia certo tempo que eu não voltava à cidade.
- Pois então, comigo o mesmo, aproveitei as férias para vir visitar meus pais, mas que tempo chatinho não?!
- Para mim até que nem tanto, eu gosto da chuva, só que em excesso é ruim, risos.
Mas tu estavas indo a algum lugar?
- Sim, aproveitei a trégua da chuva para tomar um café...
- Posso lhe acompanhar?
- Claro, porque não? Amizades novas sempre são bem vindas ainda mais em uma cidade com poucas pessoas como essa...
Então a acompanhei no café, papo vai, papo vem, descobri nela não só uma menina linda, mas um gênio esplendido, uma menina com planos, objetivos de vida, coisas que realmente me fascinam, então entre um papo envergonhado e tímido, fomos nos conhecendo mais, marcamos outros encontros no decorrer daquela semana, então em uma quinta feira quando fui me despedir dela para ir para casa, ela me deu um beijo, minha timidez jamais deixaria eu pedir aquilo, mesmo querendo, então depois do beijo ficamos mais algum tempo conversando, na minha cabeça não passava nada, além daquela maravilhosa sensação um pouco difícil de descrever, mas que parecia que o tempo havia parado, que éramos só nós dois, que nenhum problema existia, então depois de algum tempo ali, com aquela sensação inexplicável eu realmente precisava ir embora, depois daquele dia ela me disse que não poderíamos mais termos aquele tipo de aproximação, pois as férias estavam acabando e iríamos embora, o que seria bem difícil caso estivéssemos apegados.
Bom, aquelas palavras proferidas entre tão belos lábios realmente foram um pouco pesadas, entretanto, sempre segui uma filosofia de vida que consiste em que minha vida não é definida pelos momentos em que respiro, mas sim nos momentos em que perco o fôlego, ou seja, eu gosto de adrenalina, gosto de me arriscar, mesmo sabendo que posso colocar tudo a perder, eu gosto de sentir no sangue a alegria de viver, e talvez a dor da perda de alguém, isso tudo me faz sentir vivo, sentir a vida, aprender, amadurecer, evoluir, expliquei isso a ela, e com um aspecto de medo, ela respondeu que aceitava, mas que tínhamos que nos cuidar, então aproveitamos o restante das férias juntos, e posso falar que até hoje foram os melhores dias de minha vida, a dor da perda não foi tão forte quanto à alegria de poder viver aquilo tudo, e se hoje tivesse chance de mudar algo, não mudaria nada, nenhuma palavra, repetiria tudo novamente, pode parecer um ‘masoquismo’ ou até mesmo suicídio, mas somente quando estamos sentindo alguma dor, ou estamos perto da morte, que olhamos para trás e conseguimos dar valor a tudo que temos, acho que esse é mais um motivo que eu uso para gostar de tal adrenalina, não gosto de sofrer, até hoje nunca sofri, mas sei que existem caminhos que nos levam a esse sentimento tão ruim, mas acho que a felicidade tem um preço, de vez em quando ele é alto, de vez em quando ele é baixo, entretanto sempre vale a pena pagarmos, nem que seja para sermos felizes por alguns instantes, ou alguns anos, a euforia da felicidade de estamos fazendo o que gostamos, com quem queremos, e quando preferimos supera a dor de qualquer perda, e nos faz ficarmos mais fortes, só assim nos tornamos mais humanos e menos irracionais.
Claro, quando fomos embora eu sabia que era quase impossível revê-la porem sabia que aqueles momentos que passamos juntos ficaram marcados para sempre, e que mesmo sem ver seu rosto novamente, poderia sentir seu cheiro, poderia lembrar do vento batendo em seu cabelo, poderia lembrar do seu sorriso, sentir seu abraço apertado, pois o amor não é somente de corpo, mas sim de alma, e é de alma e sentimentos que somos compostos, e é a eles que devemos alimentar e cuidar, por isso eu digo com certeza, que vale a pena arriscar, sempre, em qualquer coisa, mesmo sabendo que podemos perder tudo, somente assim damos valor ao que temos, e sentimos o gostinho de estarmos vivos em mundo tão louco que tudo acontece, e pouca coisa conseguimos explicar!

4 comentários:

  1. Parabéns pelo texto e pelo blog.
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  2. Historia envolvente e muito bem escrita! Parabéns.

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  3. LIINDO o texto... E tem selinho pra você no meu blog: http://pacienciasobrenatural.blogspot.com/2010/12/maais-selinhos.html Saudades :*

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